Muitos dizer que é radical seguir uma alimentação saudável, será que isso é verdade?

Vivemos tempos curiosos. Em meio a uma sociedade cada vez mais adoecida por hábitos alimentares nocivos e rotinas exaustivas, optar por uma alimentação saudável ainda é considerado, por muitos, um ato “radical”. Trocar refrigerantes por água, fast food por comida de verdade, reduzir açúcares, ler rótulos e preparar a própria refeição são atitudes vistas como extremas — e não como decisões conscientes em prol do bem-estar físico e mental.
Mas o que é, de fato, radical? Será mesmo que cuidar do corpo e da mente é exagero? Ou será que o verdadeiro radicalismo está em ignorar as consequências das nossas escolhas diárias?
A falsa ideia de que saúde é privação
Quando o assunto é alimentação saudável, muitos associam o tema à ideia de proibição, limitação e sacrifício. Surgem frases como “a vida é uma só, temos que aproveitar”, ou “não dá pra viver sem pizza e chocolate”. Essa narrativa reforça o mito de que comer bem é se afastar do prazer e da sociabilidade.
No entanto, esse é um dos grandes equívocos da nossa cultura alimentar. Adotar uma alimentação saudável não significa abrir mão de tudo que é saboroso, mas sim redefinir o conceito de prazer, explorando novos ingredientes, texturas, temperos e possibilidades. Cozinhar pode se tornar uma atividade prazerosa, terapêutica e, acima de tudo, transformadora. O que falta muitas vezes é disposição para aprender e sair da zona de conforto.
O real impacto da alimentação industrializada
A maioria das pessoas vive em uma rotina alimentar baseada em produtos ultraprocessados — ricos em açúcar, gordura hidrogenada, sódio, aditivos químicos, conservantes e corantes artificiais. Esses alimentos são formulados para gerar alto grau de palatabilidade, criando dependência e dificultando a mudança de hábitos.
Com o tempo, essa alimentação tóxica cobra um preço alto: obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, colesterol elevado, esteatose hepática, transtornos de humor, distúrbios intestinais, infertilidade, enxaquecas e até alguns tipos de câncer. São doenças crônicas, silenciosas e progressivas, muitas vezes iniciadas na infância, normalizadas na juventude e aceitas na vida adulta como “parte da idade”.
Radical não é evitar esses alimentos. Radical é continuar consumindo-os diariamente mesmo sabendo dos riscos reais à saúde.
Por que hábitos saudáveis ainda são vistos como radicais
Culturalmente, fomos ensinados a tratar como normal aquilo que é mais conveniente e rápido. Comer em cinco minutos, pedir delivery todos os dias, ingerir refrigerante em todas as refeições e substituir água por bebidas adoçadas são práticas comuns. Quando alguém rompe esse ciclo e começa a agir com consciência alimentar, passa a incomodar o padrão estabelecido.
Além disso, o marketing da indústria alimentícia é poderoso e sedutor. Ele reforça a ideia de que felicidade está diretamente ligada a alimentos hipercalóricos, embalagens coloridas e personagens infantis. Questionar essa narrativa é, sim, subversivo — mas é também necessário. Afinal, enquanto muitos defendem o “direito de comer o que quiser”, esquecem que saúde pública e qualidade de vida são bens coletivos.
As doenças silenciosas causadas por escolhas comuns
Doenças não surgem do nada. Elas são, na maioria das vezes, o resultado acumulado de anos de maus hábitos. O excesso de açúcar, por exemplo, altera a microbiota intestinal, sobrecarrega o fígado, causa picos de glicose e está associado à resistência à insulina. A carência de fibras, vitaminas e antioxidantes compromete o sistema imunológico e aumenta a inflamação crônica.
O corpo envia sinais, mas muitos preferem ignorá-los: fadiga constante, falta de concentração, intestino desregulado, retenção de líquidos, irritabilidade, insônia, dores articulares e baixa libido. Tudo isso pode ser reflexo de uma alimentação deficiente. E o mais preocupante é que esses sintomas se tornam rotina, normalizados até que seja tarde demais.
Alimentar-se bem é liberdade, não prisão
Escolher alimentos naturais, frescos, integrais e variados é um ato de autocuidado. Significa honrar o próprio corpo, buscar energia, disposição e longevidade. Uma boa alimentação proporciona clareza mental, melhora o humor, equilibra os hormônios, previne doenças e fortalece o sistema imunológico.
Além disso, comer bem é um ato de autonomia. É saber o que está consumindo, de onde vem o alimento, como ele foi preparado e quais efeitos ele causa no seu organismo. É se libertar da dependência de substâncias viciantes, dos ultraprocessados, do marketing enganoso. É retomar o controle da própria saúde.
Mudar hoje para viver com qualidade amanhã
Pensar no futuro é uma atitude de maturidade. Assim como ninguém gasta todo o salário do mês em um único final de semana — porque sabe que terá contas a pagar —, também não faz sentido viver como se o corpo fosse invencível. O que você faz hoje, sem dúvida, repercute nos próximos anos.
A saúde é construída com constância, e pequenas escolhas repetidas diariamente têm poder transformador. Um dia sem refrigerante. Um prato mais colorido. Um lanche natural ao invés de processado. Uma caminhada diária. Essas decisões acumuladas definem como será sua velhice: com autonomia ou dependência, com energia ou limitações.
O que realmente é radical?
Radical é viver a única vida que temos sem ter saúde para aproveitá-la. É ignorar os sinais do corpo. É depender de medicamentos para manter funções básicas. É sentir-se cansado todos os dias e achar que isso é normal. Radical é não conseguir brincar com seus filhos, não ter energia para viver com qualidade, não atingir o potencial que você poderia por estar intoxicado, inflamado e desnutrido.
Por isso, da próxima vez que alguém disser que comer bem é radical, lembre-se: radical mesmo é não cuidar de si. É viver como se o amanhã não importasse. E, se há algo verdadeiramente revolucionário nos dias de hoje, é fazer escolhas conscientes. Escolher saúde, bem-estar e qualidade de vida.